"Vivemos em uma sociedade fútil. Não seja como os outros. Não deixe de ser você mesmo. Não perca sua própria essência".



Não me escondo sempre. Porém quando faço, é difícil me encontrar. Minhas emoções são seletivas... Demonstro à aqueles seres livres e puros que tanto me encantam a cada dia. Não gosto de maldade. Aprecio o ócio e o pensamento. Sou atraída por olhares... Transparentes, misteriosos. Julgo a ignorância o mal da sociedade e o fetichismo a razão dos relacionamentos voláteis e mecânicos. Religião é dúvida e amor é crença. Sorrisos são enérgicos e amigos são anjos. Não tenho a pretensão de ser a melhor, mas boa o bastante para aqueles que prezo. Acredito na classe e na postura. Sem clichês fúteis.
Gosto de abraços fortes, entregas verdadeiras, desejo e paixão.
Não me obrigue a concordar e não tente me prender. Minha alma é livre como um pássaro. Meu coração é honesto. Penso sim antes de falar. Me machuco rápido e sou sensível. Mas também sou forte e guerreira. Não me conte mentiras, por mais lindas que sejam. Se eu amar, amarei. Se chorar, chorarei. Portanto, vou viver.


sexta-feira, 13 de março de 2015

08 de março

Nesse dia internacional da mulher, mais do que flores, atitudes. Mais do que palavras, transformação do pensamento. Nós, mulheres, fortes, batalhadoras, persistentes, ansiamos pela chegada da igualdade, que caminha lentamente, mas nunca deixou de progredir, graças à nossa luta diária. Não há mais, nesse mundo, espaço para abismos entre os sexos, espaço para preconceitos desvalidos de argumentos, ausentes de consciência, abarrotados de injustiça.
Cada mão dada representa o fim de uma ruptura trágica, que apenas traz dor e retrocesso diariamente. O dia da mulher não é um dia apenas de sorrisos e sim de lágrimas de tristeza e orgulho. Orgulho por cada passo conquistado, cada dificuldade superada e cada luta que ainda será travada e vencida com dignidade e altruísmo. E tristeza, pelas mulheres que ainda sofrem, ininterruptamente, pelas atrocidades cometidas em todos os cantos do planeta, por aqueles que ainda não aprenderam a amar. Não é sobre compaixão, porque esse papel de vítimas não nos pertence. Vítimas são aqueles que desperdiçam tudo o que temos a oferecer à sociedade e à evolução. Somos fortes como uma rocha, mas sensíveis como flores. Que paradoxo mais lindo para compor um ser igualmente incomparável. Parabéns mulheres. Parabéns homens que sabem nos valorizar. E vamos todos, juntos, rumo à liberdade!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

A ternura leva embora toda a maldade



É aquela gordurinha que forma embaixo de seus olhos quando você sorri. Janelas de sua alma, que seguem o formato de uma amêndoa a depois tornam a escorrer deixando um rabinho de ternura em cada piscadela. De nariz charmoso e confiante, segue a personificação da beleza, delineada em cada traço que desenha tão perfeitamente seus lábios. Eles nada mais são do que a porta de entrada para todas as doces e tórridas fantasias que se esparramam em um emaranhado de ideias e sentimentos que percorrem minhas veias a cada observação ou toque, desde as extremidades, até sua profunda maciez. De vigor e desempenho, ela está cheia. Habilidosa, cautelosa, e ao mesmo tempo, violenta e sagaz. Não perde um movimento, mas sabe a hora de recuar. É leve e pesada, doce e amarga. Ávida por companhia exibe sua beleza e então depois, se restringe às manobras sensoriais.

Mas não só a boca, a responsável por tamanha cumplicidade estética que se fixa entre nós. Tem aquela sobrancelha larga e rebelde, que na medida certa adere masculinidade ao rosto e combina perfeitamente com os olhos. Olhos? Nunca vi mais lindos em toda a vida. Verde-água. Azul e verde. Verde azulado. Quando se bota reparo, é quase um passeio a uma galáxia desconhecida. Cheios de objetos estranhos a circular em toda a superfície redonda. Se a imaginação está aguçada, nada mais que estrelas, corpos a planar, relevo desuniforme, componentes minerais. Transportam e intrigam. Invocam e animam. Persuadem. Obscenos, profundos, molhados, coloridos.

Tem também as mãos, aventureiras. Olhar para elas é verificar suas peripécias, sua personalidade, sua exclusividade. Mãos de alguém que deixaria tudo porque vislumbrou um novo horizonte, uma terra nova, com cheiro de mistério. Alguém que desbanca o cotidiano por uma ideia maluca, uma viagem maldita. Alguém que pela vida não há de passar em branco, não há de jogar no barranco... Os sonhos. Intrépidas mãos. Translúcidas ideias.

Aspectos físicos esses que mais me carregam a cada dia, sem que nada perca o encanto. Mas não são eles sozinhos que fazem todo o trabalho. Tem o timbre que transporta... Não é fino. Não é grosso. É suave. Macio como os pelos de um felino, confortável como uma rede no litoral, tranquilo como o barulho das águas. O timbre mostra que estou em casa. Que estou perto, enfim, do meu porto seguro. O cheiro tem lugar na mesma barca. Mostram o lar. Mostram que não há mais o que ansiar, pois o aconchego caminhou e estacionou e acolheu e recolheu as dores. Exibem de modo sutil e profundo que não mais é preciso temer, doer a saudade, pois nada mais pode atrapalhar aquele abraço. Nossos abraços nos fazem voar. Os carros param. As luzes cessam. As vozes se acanham, as interferências escorrem no exílio. É uma união de almas, é uma junção de sentimento. É uma mistura homogênea, que de tão uniforme, não é possível distinguir, reprimir, desiludir.

Que de fábulas bastem, que a história real se desabroche e prove que nada é mais lindo que o verdadeiro, o relato. Contado. E provado. São brincadeiras estúpidas, são risos desgovernados, sentimentos conturbados. Tudo se mistura e tudo faz feliz. Mesmo na última lágrima que escorre perante um desentendimento, aflora a magnitude da cicatriz que se constrói lentamente e com todo cuidado, para que desapareça com a dor, e fortaleça o amor, aprendido e ensinado a cada dia, a cada instante, a cada verbo jogado longe. É prazer, é lazer. É sem entender, que surge, é sem perceber que fica. É sem prever que dura, é sem querer que eterniza. É sem valer que enlouquece. É todo dia, é o dia todo. Aquela última fala antes de dormir, aquele último dengo antes de persuadir. São os toques. São as projeções. É a parte irreal e a imaginária, alimentada todo dia pela estrada. Tudo o que vivemos, o que viveremos e o que achamos que vivemos, todas as noites antes de dormir. Se tudo se consolida de realidade e fantasia, por que diferente haveria de ser com a vida? Com o amor? Com a paixão?

A convivência traz a intimidade. A ternura leva embora toda a maldade. E sem perceber, aos poucos, nada mais somos que dois amantes enaltecidos por carregarmos no peito o semblante de uma passagem significativa, que não desperdiçou tal oportunidade, de andar pela existência, sem carregar o mais nobre sentimento nos braços. Como diria Chico, nos amamos como “dois pagãos”, mas trazemos ao mundo um pouco de divindade, um pouco de transcendência da mediocridade. Um pouco de abstenção do egoísmo. Ao amor assim, nos doamos. Doamos o coração e seus caminhos de pulsar. E sem nenhuma razão, ficamos a esperar, que o tempo não seja ligeiro, que a rotina não nos deixe enfermos, e que a vida vibre a cada dia mais, sem nunca deixar de compartilhar. Porque nada é mais verdadeiro que dividir a vida. Por escolha. Por querer. Por amar.



sexta-feira, 29 de agosto de 2014

A Perspectiva de Rubem Alves

Em seu brilhante texto Perspectivas, do livro “O que é Religião?”, Rubem Alves não trata de nenhuma religião específica. Ele aborda com sabedoria, as religiões em seu contexto geral, que por muitas vezes, nem sequer precisam estar presentes em locais sagrados ou sacramentados. Ele expõe dois panoramas religiosos, o místico e/ou encantando e o da experiência cotidiana, carregada discretamente, de religiosidade. Porém, faz menções que remontam à influência do catolicismo durante determinados períodos da história, à medida que cita a aparição de virgens em grutas, a presença marcante em centros de saberes científicos, a tomada de decisões com bases religiosas, etc. Além disso, ele expõe a religiosidade em um prisma diferenciado, onde a roupagem sofreu mutação, porém sua origem continua sendo a mesma, a origem da busca pela consciência humana e a divina, que mescladas, querem dar sentido à existência e às questões íntimas, que ao mesmo tempo são individuais e coletivas.

O autor referencia um tempo dividido entre um antes e um depois. Esses tempos foram assim fragmentados, pois com o desenvolvimento da ciência moderna, antigos preceitos religiosos perderam suas forças para explicar à sociedade determinados fenômenos e acontecimentos, que antes eram expostos de forma mítica e transcendente. O “antes” explicaria um mundo dominado pela fé, em suas ações de estado, sociedade e corriqueiras atitudes individuais, guiadas pelo superior a todo instante. O “depois”, jorra certa independência do homem em relação a dogmas e preceitos religiosos para ações em geral, como a tomada de decisão do Estado, as opções de vida em conjunto ou individualmente. Um tempo, o primeiro, seria guiado pela religião, pela crença, por relatos místicos. Já o segundo, seria vivido pela razão, pela lógica, pela ciência, por provas materiais e palpáveis.

O que proporcionou a mudança da prática religiosa entre esses dois tempos, foi, primeiramente o desenvolvimento da ciência moderna, que a partir de experimentos, realizações com bases lógicas, matemáticas, físicas, foi capaz de fornecer ao homem novas soluções e explicações para eventos, que antes possuíam embasamento teórico em suposições anexadas à religião, de modo que o homem foi educado a vislumbrar o mundo sobre nova ótica. A ótica da percepção material e prática, com a averiguação por meio da observação, da realização de ligações entre áreas do conhecimento, de cálculos e a utilização de maquinários. Por meio dessa nova categoria, a religião passou a ser dispensada dos centros de saberes humanos, pois sua influência viria na direção contrária do que a ciência buscava mostrar. Controversas e excludentes, a ciência e a religião já não mais poderiam ocupar o mesmo departamento para um consenso entre as escolhas. Foram assim dispensados, todos os aparatos e figuras religiosas que antes, significavam a autoridade na sequência de acontecimentos. Novos valores vieram de encontro com a nova sociedade que vinha evoluindo através da ciência, que não mais buscavam o suporte dogmático espiritual. Em segundo lugar, certo constrangimento ocupou a mente dos humanos da nova sociedade estruturada pela linha da lógica e da verdade comprovadamente numerada. Visto que, tudo é comprovadamente científico, assumir-se religioso tornou-se um atestado de ignorância ou de ilusão. Logo, para suprir as necessidades, ainda religiosas do ser humano, ocorreu uma mudança no tratamento da prática religiosa. Transvestidas de terapias, centros de psicologia, técnicas de meditação e relaxamento, rodas de debates filosóficos, energias positivas, entre outras, as religiosidades se expõem aos homens de modo discreto e mais socialmente aceito. Se por ora se viveu a ditadura religiosa, hoje se vive a ditadura da ciência, que oprime manifestações religiosas, ou no mínimo, as ignoram, de forma a constatar sua insignificância, ingenuidade ou loucura. O que se mostra no texto, é que na realidade, a religião se fundamenta principalmente, em questões existenciais que são instrínsecas ao homem e sua característica de ser indagador. O homem, em sua habilidade intelectual busca respostas à sua inquietude de existir a todo instante, e talvez, essas respostas, não estejam disponíveis em uma trajetória lógica tangível. Algumas aflições são abstratas. Algumas dores são invisíveis. Alguns sentimentos são intocáveis e a fé, a fé é subjetiva.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Surpreendentemente bom.

Hoje assisti FRANK. A peça de teatro que carrega em seu nome a referência ao romance Frankenstein, em que um cientista especialista em genética cria um ser humano em laboratório a partir de combinações gênicas, trouxe reflexões mergulhadas em profundidade e atemporalidade.
Da Companhia Teatral Arnesto Nos Convidou, com texto de Samir Yazbek, a peça de apenas e incrivelmente acertados cinquenta minutos, trouxe esperança ao ato de pensar, que hoje agoniza no materializado e estreitamente superficial mundão. Sem margens floreadas e tipicamente anormal, a história se passa como uma paródia de extremo bom gosto da história. 
Mostrando a personalidade complexa e afetada da criação feminina do cientista, a estória questiona o "empoderamento divino" da ciência moderna, que por vezes, se julga capaz de alterar a ordem natural da vida. Ao mesmo tempo em que se desenrola a trama, quem a conta é o autor da estória, que por sua vez, também exerce poder sobre a vida de seus personagens e os guia tais como marionetes com destino traçado e quem não poderia dizer, condenado. Mas que inquietude é essa que busca o controle da própria e da alheia vida? Qual a dor que nos entristece a cada instante em vazias e ininterruptas tentativas de seguir o fluxo, que não nos pertence internamente?
Entre julgamentos e contrapontos, a verdade que se torna clara é a infelicidade gélida da morte dos sonhos. Do afogamento das ânsias, das ousadas expectativas, do indomável fôlego pela vida.
A culpa é da ciência? É da rotina? É da manipulação? Ou do medo de assumirmos nossos desejos íntimos?
Mas quem afinal busca culpados? O que se busca é a vida. Hoje, amanhã e depois.
A vida que revela a essência de cada ser único e irrefutavelmente subjetivo.
Sem azias ou drama, eu acredito que cada coração que bate busca sua estrada. E em meio à tantas ofertas, financeiras, materiais, palpáveis, estamos cegos diantes do pulsar. A vida que corre e não passa, mostra nuances de beleza em cada esquina, em cada livraria, ou mesmo na neblina pela manhã.
Estamos a perder a vitalidade, buscando a estabilidade.
Qual a lógica da rotina, se o extraordinário ilumina?
Sem ignorar o sistema em que estamos inseridos, é possível abrir uma brecha para a fábrica de ilusões, a arte. E quem se importa se são ilusões?
O desenho nem sempre significa o que é, como já dizia Antoine de Saint-Exupéry. O que há de ser a vida se não uma ilusão?

Reticências para o término. Ou o começo de tudo. Boa sorte.

Resultados da pesquisa

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Dor da Decepção

Chega de mansinho e começa a latejar. De fracas e rápidas, as pontadas crescem em ritmo exponencial, agudo e opressor. Se chocam contra as extremidades de onde pulsa o órgão supremo.
Logo atacam o pobre coração e o balançam em ritmo desenfreado e redundante. Arde, coça, provoca náuseas e calafrios. Sufoca e repreende. Invoca e distraí. É um aperto íntimo que escancara com frieza a maldade depositada em dada confiança. Cabelos em pé, lágrimas no chão.
De antemão descem as súplicas descabidas e a incredulidade. Já não há mais por onde correr. No paredão preto, os gemidos se escondem, trazendo mais espantos para o arfante decepcionado que acaba de renunciar ao cargo de otário.
Desprezo, mágoa e rancor escorrem aos montes no último adeus.
Um pontapé de dor e perda. O apagão da vela que parecia queimar. O naufrágio programado de uma criança, inocente, que dormia.
Uma apunhalada nas costas por motivos vãos e uma dor sem morfina. 

sexta-feira, 4 de julho de 2014

A Culpa é das Estrelas - Um Best-Seller sensível e não plastificado

Tocante, sensível, doloroso e cômico. Ao mesmo tempo infantil e maduro, o romance do norte americano John Green, em sua adaptação ao cinema, chegou derramando lágrimas até do mais inabalável espectador. Abordando o tema do amor juvenil, porém com a ótica do câncer, o filme conta com elementos de reflexão, prismas diferenciados de entendimento e percepção da vida e sua realidade, com a dor e a superação. O diferencial do longa-metragem é sua característica de abordar a doença, sem a manipulação para a venda de emoções baratas sem conteúdo. O câncer é exibido como um entrave que perde suas forças perto das diversas ramificações do amor demonstradas.

Hazel Grace Lancaster, vivida por ShaileneWoodley, é uma adolescente de dezessete anos, que desde a infância enfrenta o câncer de tireóide que resultou também em uma metástase para os pulmões. Juntamente com sua companhia inseparável, um cilindro de oxigênio com uma cânula no nariz para possibilitar a respiração, Hazel enfrenta o conflito da morte e a perda de momentos preciosos. Em busca de minimizar a frustração de sua filha, a mãe de Hazel propõe que ela freqüente um grupo de apoio de jovens com câncer. A menina segue o conselho, apenas para possibilitar um pequeno nível de contentamento à figura materna, que sofre diariamente em silêncio. “A única coisa pior que morrer de câncer é ver seu filho morrer de câncer”, é um conceito dito e generoso de Hazel, que por vezes se culpa inconscientemente pela dor que desperta em todos ao seu redor.

Com as visitas ao local da terapia, Hazel encontra Augustus Waters, de dezoito anos, que perdeu uma perna em razão de um câncer desenvolvido no local e que está há um ano, sem um diagnóstico de malignidade. Gus, que é seu apelido no filme, passa a interagir com Hazel e ambos se apaixonam rapidamente. A personagem busca evitar um envolvimento maior que a amizade, por acreditar que poderá causar sofrimento. Ao mesmo tempo, Hazel está obcecada por um livro escrito por um escritor holandês sobre câncer e tem o sonho de encontrar com o escritor para saber a continuação da história que é interrompida pela metade, tal qual ela acredita que sua vida será. Gus consegue o contato com o autor e a leva para a Holanda, após muita discordância entre a comunidade médica, por Hazel estar doente demais.

Nesta viagem, vários fatos ocorrem e o adolescente se declara para Hazel, mostrando que o amor não é uma escolha e que o tempo é um fator relativo, pois “Alguns infinitos são maiores do que outros”. Vivido por AnselElgort, o personagem Gus é bastante contraditório e intrigante à medida que vivencia os problemas com positividade e humor, escondendo suas fragilidades. A interação entre os atores é viva, intensa e transmite muita pureza, apesar de suas consciências estarem desgastadas pelos obstáculos impostos em suas vidas.

O filme não expõe a patologia, mas os humanos que existem e que são maiores que suas doenças. Expõe o amor dos pais, suas dores e sacrifícios para proporcionar alegria mesmo com a esmagadora sensação de perda anunciada; Transmite a importância da parceria para enfrentar as mazelas cotidianas e acima de tudo, demonstra o amor em sua forma mais bruta e talvez mais bela, inocente e efêmera com data de validade terrena, mas não espiritual. O filme Hollywoodiano, com final completamente inesperado, surpreende as expectativas dos atuais filmes transmitidos ao público jovem e derrama o incentivo da superação e da importância de valorizar os pequenos e preciosos momentos em meio às adversidades, por vezes, cruéis. O filme foi dirigido por Josh Boone.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Malévola: O drama entre os pólos

Recontar uma estória, a sua própria estória. Foi isso o que a grandiosa Disney fez quando estreou “Malévola”, uma reconstrução da clássica e consagrada animação “A Bela Adormecida” de 1959, baseado no conto de fadas homônimo do autor Charles Perrault. Esta primeira versão trazia à tona a trajetória da princesa Aurora, amaldiçoada desde o nascimento pela terrível bruxa Malévola, que a condenou ao sono eterno aos 16 anos, quando por descuido, furasse o dedo em uma roca. O único antídoto exposto pelo desenho para a reversão da situação seria um beijo de amor verdadeiro, o que foi feito pelo charmoso príncipe Felipe. A primeira edição seguia à risca os paradigmas doutrinados em todas as manobras destinadas ao público infantil: O bem e o mal. A luz e a treva. O “Felizes para Sempre” com a união de um casal.

Em pleno século XXI, ocorre um resgate ao mítico relato: Malévola, vivida pela atriz Angelina Jolie, estreia com o intuito de retratar a ficção por uma nova ótica: A amplitude da personalidade da vilã em primeiro plano, desde sua complexidade subjetiva até os desígnios que a fizeram atingir o ápice de sua crueldade. Um desafio intenso destrinchar a primeira versão do filme, para expor então as dores e feridas do ser humano e demonstrar, talvez, que a linha entre o bem e mal é muito mais tênue do que aparenta ser nas demonstrações aos pequenos admiradores. As qualidades e perversidades se mesclam no desenrolar da narrativa de modo a confundir o telespectador que se questiona sobre o julgamento cru que é feito diariamente a todos ao redor.

A bruxa, na nova versão, é mostrada como fada desde sua infância, quando exercia a função de órfã guardiã de um reino encantado. Porém, Malévola é ferida pelo pai de Aurora, Stefan, com quem durante a infância compartilhou um delicado amor juvenil. Cego pela ganância de se tornar rei, Stefan é responsável por trazer a maior dosagem de rancor e desumanidade para a antiga doce menina, de olhos translúcidos e alma pura. A traição exposta no filme derrama indignação e dor. Nada de traição carnal. A deslealdade se fixa no furto das elementares asas da fada, que além de mecanismo de sustentação, representam, metaforicamente, sua liberdade.

Prostrada em sua nova condição, a fada começa a perecer vagarosamente juntamente com suas esperanças e sentimentos nobres. Uma nova carcaça sobrepõe, destilando ódio e ira, em busca de uma vingança à altura de sua perda emocional e física. A fada, que agora, é bruxa decide lançar um feitiço sobre a filha recém-nascida de Stefan, que havia se tornado rei. Essa parte do relato é fidedigno ao início da primeira animação. O rei então ordena que a criança seja criada em um vilarejo, em um disfarce de camponesa, por suas três fadas madrinhas. Em vão, Malévola acompanha cada passo da criança, com o auxílio de um corvo.

O ódio que ela tem pela representação da linhagem de sua maior decepção, começa sutilmente, a se converter em um laço um tanto quanto obscuro. Ela luta contra o sentimento que começa a crescer pela ingenuidade e doçura de Aurora, vivida pela jovem Elle Fanning. Despida de preconceitos, Aurora se encontra com Malévola e a trata como um anjo protetor que esteve ao seu lado em todo o seu crescimento. Perdida em contradições, a protagonista demora a admitir que o amor que viria para unir era maior que sua sede pelo justiçamento impiedoso. Arrependida pelo feitiço, Malévola tenta revertê-lo, mas se frustra. Busca alternativas, entre elas, um pretendente. Em vão. O ponto forte do longa é a solução para o percalço. O beijo de amor viria da própria vilã, que como ninguém, amou Aurora com toda a verdade e com o resgate das sobras de sua alma bondosa.

Categoricamente ousado e com um cenário visual extremamente agradável ao público, principalmente o infanto-juvenil, a estória mescla o obscuro com o gracioso. Apesar do caráter infantil, reflexões são delineadas para o público adulto ao retratar as faces da peculiaridade humana. Intrínseco a todos, as posturas que caracterizam a virtude ou o perverso, podem estar escondidas nas experiências vividas por cada um dentro de seus limites emocionais e psicológicos. Simplificando, não existe a linha que divide o campo em dos hemisférios opostos. Apenas caminhos trilhados, escolhas feitas e dores e conquistas. Vale ressaltar que existe retorno quando o caminho está pesado. A compaixão e o perdão se mostram como valores fundamentais da estrutura.

Por fim, o traço feminista de que não necessariamente para alcançar a felicidade é preciso estar à mercê da vinda do príncipe encantado foi uma aposta, que em minha opinião, deu certo. O amor não é exposta em sua forma padrão e massificada.
Apesar de suas contradições e expressões fantasiosas em excesso, o filme se diferencia em sua essência, por sua ousadia, inovação e fotografia. Um blockbuster dirigido por Robert Stromberg, que incita dúvidas, questionamentos e um pouco de doçura para um público que enfrenta diariamente a realidade, com maldade o suficiente, porém sem arrependimento e sem conversão.



Ai, que dor de estômago!


Ontem assisti a um filme patético. Descontente por ser patético, explorou a futilidade, exportou a imbecilidade e está contaminando diversos públicos ao redor do planeta. Contribuindo para a abstinência do pensamento, estimulando o desprezo à vida e vulgarizando todas as ações humanas. Não, eu não sou "caxias" como você deve estar pensando. O filme “Vizinhos” traz a vida de república como um confinamento ou internação em uma casa de loucos totalmente consentida. "Drogas for free", muito sexo material, superficial e pobre e desrespeito total ao próximo, ao vizinho, ao cachorro da esquina. Sem moral, fábula ou qualquer linha intermitente de mensagem após o caos, ficou a imoralidade pela libertinagem simplesmente. Esdrúxulo e totalmente ultrajante, o filme conseguiu estimular o asco e a repulsa. Nem engraçado foi, exceto pelo momento da luta com dois pênis de plástico, segurados pelo presidente da república e um suposto pai de família.

Mas não resolvi escrever para falar mal do filme, aliás, falar mal de filme é dar um tiro no próprio pé, esperar "haters" para julgar, massacrar e regurgitar, totalmente fora de contexto e manipulada, a sua opinião. Resolvi escrever porque o que passou no filme não se difere de alguns contextos claramente expostos em nossa sociedade, que vem se superando no egoísmo e na futilidade, como nunca antes. Não sei se é culpa da tecnologia que afastou as pessoas, ou se há mais liberdade para exibir o podre, pois o errado de hoje é considerado "cool". O problema não são as ações em si. O problema é que tudo é feito de forma induzida. Ninguém sabe por que está fazendo, apenas deseja integrar a massa para que não haja diferenciação, exclusão e porque há existe uma cultura ao prazer sem limites em combinação com o não se importar.

Manter a imagem é o mais importante. A comunicação é puramente visual e o aprofundamento, só se for da penetração. Não sou contra sexo, pelo contrário. Mas as pessoas não sabem mais se fazem porque gostam ou se porque devem à sociedade explicações. As drogas nada mais são que uma fuga da realidade. O uso dos sentidos humanos está tão atrofiado, que só por meio de estímulos forçados ao cérebro se atinge algum grau de satisfação. Isso é muito deprimente, antes de ser impróprio. Eu colocaria uma censura etária para as crianças nesse mundo. As crianças são as maiores vítimas da atualidade. Desde novinhas são ensinadas o que deve ser feito e o diferente sofre Bullying. Para não sofrerem perante os diversos grupos sociais que esbarrarão pela frente, buscam se assemelhar aos seus companheiros de trajetória. A Universidade perdeu seu pódio de educação e empoderamento intelectual. É óbvio que esse período é o da diversão e dos amigos de longa data, mas o exagero vem tomando lugar de modo incontrolável. O excesso é visto como regra. A loucura como obrigação.

Cansa os mesmos personagens na festa. Cansa ver seus amigos vomitando por substâncias distribuídas pelos líderes. Exausta a cobrança para integrar o que está apenas aglomerado e não unido. Princípios, valores agora são coisas de velhos caquéticos e indesejáveis. Acho que sou uma velha caquética indesejável. Acho que me perdi nessa evolução barata e superficial, nesse mundo de coisas caras e palpáveis, nessa curva para a morte da filosofia. Não compareci ao sepultamento do amor, faltei às aulas de malandragem e ignorei os chamados para o ilusório êxtase, fruto do último químico proveniente da medicina veterinária.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Último suspiro para a liberdade

Às vezes cansa a perfeição, os bons modos, as boas causas, a responsabilidade, a boa impressão, a etiqueta, a maquiagem. O desgaste do bom gosto, da boa vida, da zona de conforto.

Por que diabos a juventude é tão passageira quando a partir dela temos que construir nosso futuro e ao mesmo tempo perder o juízo? Cansa a dúvida que me consome. Ao mesmo tempo do apreço aos valores morais, às expectativas derramadas desde o nascimento, sinto meu corpo se afogar na linha que cerca meu limite para ultrapassar a safe zone.

Tão logo nos próximos anos devo seguir o script. E o meu tempo de viajar e fazer o que faz o meu coração pulsar? Cansa-me as cobranças da vida para o perfeito. Moldada pela vida, aprecio as virtudes, mas percebo a ausência do cabelo bagunçado, da falta de sinal do celular e da consciência. Onde está o meu tempo para velejar sem destino e experimentar diferentes sensações? Onde se escondeu o místico da liberdade real?

Às vezes no meu primeiro bocejo matinal, abro meus olhos. Desejo pintar o meu cabelo de vermelho, fazer uma tatuagem, sentar em alguma casa noturna e simplesmente ver o dia amanhecer. Almejo o silêncio e o barulho, a audácia e os questionamentos. Tenho vontade de um dia acordar e derramar o conservadorismo no ralo. Viver um dia de revolta e de contentamento, de juventude, de ar fresco. Nas areias quero me deitar e permanecer. Quero sair por aí, sem rumo, sem roteiro.

Cansa ser previsível. Cansa as satisfações. Cansa as perfeições. Para hoje, eu quero mais é ser imperfeita, quero usufruir o tempo que tenho com coisas que me façam realmente feliz. Por que não andar pela praça? Por que não sonhar acordada? Eu não quero ser podada. Eu não quero ser domada. Eu não quero ser frustrada.

Os sonhos vêm e vão, mas não tão rápido quanto o tempo. O tempo é traiçoeiro e se assim mesmo vagarosamente esperamos pelos feitos, nossos sonhos serão enterrados mais rápido que o nosso corpo. A morte pode vir com a ausência do medo, da expectativa e do desejo. Confortável seria a vida toda a seguir os passos certos e esperados por todos. Agrademos a todos e afoguemos nossas vozes! Diga sim para todos e negue sua individualidade.

E daí se me chamarem de louca, inconseqüente? E se não for a melhor escolha? E se eu não acertar sempre, qual é o problema? E se eu não for a medida de menina perfeita? E se, eu for feliz? A felicidade nem sempre está nos caminhos mais simples, que exigem menos dor e esforço. A felicidade pode estar na terra molhada em um sítio no meio do nada, na escalada de uma montanha, no cabelo ao vento, na solitude.

Estou farta da rotina. Extravasar é necessário. Seguir a linha que é ordinário. Poupar a todos é esmagar a vida. Quero ficar se eu quiser ficar. Quero partir se eu quiser partir. A vida tem prazo, e com o passar do tempo cobra juros.

Que não me falte coragem para assumir minhas ansiedades. Que não me falte ousadia para viajar. Que não me falte força para enfrentar a dor de minhas escolhas e que não me falte amor. Porque o amor, para mim, é a única regra a ser seguida. Fé pra viver, energia para concretizar. Sonhos para nunca terminar.


quinta-feira, 8 de maio de 2014

O que falta na Humanidade


Em meio ao mundo, a abstinência do amor é apontada por mim como a responsável por tamanha dor coletiva, sentida, tragada e contínua. Esse incômodo que gera desconforto na boca do estômago, que pressiona as enxaquecas e os conflitos políticos, o tédio e o desacato nas ruas. Essa pressão que nos faz perder de nós mesmos, acreditar nas enciclopédias de doenças psicológicas modernas e exaltar o dinheiro como provedor do sucesso e da felicidade.

Não falo do amor romântico, muito menos aquele exclusivamente maternal. Não falo do amor utópico das fábulas, das ideologias infantis. Falo do amor à vida. Ao contentamento pela existência, à retirada da opacidade ocular, intelectual e cotidiana.

Quando foi que a sociedade se tornou tão apática? Quando foi que deixamos de vislumbrar os nossos próprios corpos, que agora vagam seguindo freneticamente um ritmo induzido, limitado, deturpado? Quando foi que as crianças se tornaram reféns da exploração capitalista e desperdiçaram sua imaginação e irreverência escondidas em aparelhos eletrônicos? Em que período idosos se tornaram utensílios descartáveis, pesos desgastantes e motivo de vergonha?

Diz-me porque a frieza se faz cada vez mais presente. Por que sábios estão calados, manipuladores exaltados, pessimistas alimentados, violentos valorizados?

Ah. Que dor grande que incide a cada fantasia limitada, a cada espontaneidade reprimida, a cada gesto generoso, agora tão recatado. Abraços são desprezados. Os teclados substituíram os timbres vocais.

É culpa da falta de amor.

Falta de deixar o coração bater conforme a própria subjetividade única e restrita a cada indivíduo, que não pode, nunca, ser padronizada. É o descaso com a família, com os pais, com os filhos, o marido, os amigos, os colegas de trabalho, a velhinha que está atravessando a rua, a criança sem escola, a exploração dos incapazes, as mortes abreviadas.

Homens se esqueceram do amor ao submeter mulheres a caprichos sexuais forçados. Mulheres se esqueceram do amor ao abortar o inocente que não pode escolher viver. Jovens se esquecem do amor ao escolher a infelicidade diária de optar por uma carreira que promete maior aquisição financeira. A sociedade se abstém do amor ao revogar à própria consciência e permitir que injustiças se consolidem a cada dia nas mais diversas situações e não temer pela dor e sofrimento alheios. Aglomerados se privam do amor ao abolir o diálogo em prol de programas televisivos alienantes, massificadores e ludibriantes.

O dinheiro reina. Tudo tem um preço. Mas falta o valor às pequenas coisas, que na realidade, acrescentam virtudes, momentos de satisfação, de harmonia e que não podem, pelos menos por enquanto, ser comprados. Falta observar o trajeto na direção, o por do sol após o término do expediente, a manifestação inocente de uma criança indagando sobre o mundo e suas diversas realidades. Falta apreciar o silêncio da madrugada, a paz do contato com a natureza (aliás, fujamos do concreto vez em quando), o nascimento de uma criança, a complexidade e intensidade do sexo não restrito à atividade mecânica, a companhia dos animais, a energia dos jovens e a sabedoria dos idosos, a interação entre faixas etárias, saudável, complementar, viva.

Por que fechar nossos olhos perante a grandiosidade universal, energética, magnética, única e infindável? Somos tão pequenos perto do que nos cerca... Mas temos o dom de expandir nosso conhecimento e percepção para muito além de nosso limite físico. Restringir a vida à atividades repetitivas e egocêntricas é um atentado à arte, à filosofia, ao dom do pensamento, à capacidade intangível do ser humano de se renovar e evoluir. Chega de falta de amor ao mundo, às perspectivas, aos toques, aos sentimentos, às sensações, à espiritualidade.

Chega de contentar-se em absorver o pouco mastigado do que nos é oferecido em embalagens pré-moldadas. Gozamos da capacidade de buscar, de formular nossas próprias inquietações e contentamentos. Vamos viver nossos sonhos e medos, ideais e visões, antes que o cronômetro zere e todas as possibilidades sejam engolidas pelo fim dessa vida.

Vamos marcar o mundo com criatividade, audácia, mudança. Abraços valem mais que seu Ipad novo. E sua vida não precisa ser “marionetizada”. Deve ser vivida, escrita, do jeito que te fizer feliz, te fizer vibrar, sorrir, e principalmente, AMAR.



Mãe


Mães não deveriam envelhecer. Não posso falar por todas, mas pela minha. Complicada, encrenqueira, brava e exigente. Ah, defeitos razoáveis! Contrabalanceados ou por assim dizer, eliminados, por sua infinita carga de amor, proteção e amizade, posso afirmar que não há de existir nessa vida alguém mais importante para mim.

O mundo fala, dita, impõe. Se ela confirmar, está tudo bem. Se repudiar, firmará meu desespero. Sua bronca me balança e seu reconhecimento me impressiona. Me faz querer crescer mais e mais, até atingir o sucesso e produzir algo que possa ser dedicado. Para quem? Para ela.

É minha extensão, meu espelho. Meu mal, meu bem, minha luz no fim do túnel. A quem eu darei satisfação pro resto da vida. Por escolha. A quem eu terei orgulho que meus filhos a intitulem de vó.

Durona e inacessível a casca, que quando se quebra, revela um ser humano sensível, generoso, que dedica a sua vida e esforço pelos filhos que carrega no coração.

Seus ensinamentos são os meus dogmas. Sua verdade, a minha segurança. A minha paz, o meu inferno.

Nunca será indiferente. Nunca será abandonada, esquecida ou deixada.

Te deixar para trás mãe, é abandonar parte de minha alma, de meu coração. É deixar a vida, a cor, a família e o amor. Você me ensinou a ser o que sou e sempre vou querer aprimorar pra te impressionar.

Obrigada pela vida que você me deu, pelo caráter que você formou, pelas oportunidades que você cedeu e pela semente de amor que você plantou.

Reconheço seu esforço e espero um dia poder recompensar pelo menos um décimo da felicidade que você me proporcionou.

Uma grande mãe, um anjo bravinho, um colo confortável, um riso descontraído.

Quero sempre ter esse colo para me recolher e morar na bolsinha do canguru.

Não prometo que estarei sempre. Mas onde eu puder, vou te levar comigo.

Dizem por aí, que os filhos são como pássaros, que voam em busca de seu próprio caminho. Não discordo. Mas em muitas vezes vou te levar para apreciar vôos lindos e diferentes, para que você possa experimentar novas sensações e estar sempre ao meu lado.


Minha mãe, minha amiga. Feliz dia da Família!

Eu te amo!

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Por que escrever?


Sou questionada a todo instante. Você cursa jornalismo por quê? Uma das repostas é sem dúvidas, porque gosto de escrever. E então a segunda pergunta, já quase nem escuto. Já sei exatamente a quantidade de sílabas e a entonação... Por quê? Gosta de escrever por quê?

Resolvi então parar de usar do meu discurso padronizado, robotizado e impaciente para responder a essa pergunta e justamente usar a escrita para explicar a graça de colocar as idéias para fora em um papel, em um guardanapo, no bloco de notas do celular ou no Word.

Não hei de me abster-se a explicar apenas o escrever jornalístico. Não. Até porque quando comecei a escrever, lá pelos meus cinco anos e meio, eu nem sabia a importância do jornalismo e seu poder positivo, negativo, alienante ou mobilizador sobre as pessoas. Hoje sei, mas não vem ao caso.

Escrever para mim é uma arte. Descontínua, intrigante e completamente subordinada a uma perspectiva única: A de quem coloca cada palavra de um vocabulário próprio e as une de forma a transmitir uma mensagem que parte de um imaginário subjetivo, com inclinações que esboçam uma identidade, uma crença, uma luta.

Lembro-me que primeiro escrevi releituras de clássicos da Disney. Sim, eu estava no pré e ao invés de utilizar os lápis de cor para colorir durante a aula de desenho livre, eu tentava manter a coordenação para escrever meia dúzia de palavras, que contavam um fato. Todos os dias eu contava um trecho da estória, até que finalizava e com o ego alto mostrava à professora o livro que havia construído. O prazer era enorme. E ele vinha principalmente pelo poder que eu podia exercer sobre os personagens, cujas características eram modificadas por mim, apenas por mim. Eu tinha domínio sobre as falas, sobre os acontecimentos, sobre os encontros e desencontros. Era muito legal poder retratar a princesa da forma como eu a enxergava, alterar uma mecha no cabelo ou um resquício de sua personalidade. A incrível criação. Criar era poder. Poder de mudar o rumo da história, de tornar real o que antes era restrito ao imaginário.

Até uns dois anos depois eu continuei com a idéia de escrever histórias de princesas, príncipes, fadas, pó mágico e tudo o que o padrão criancês pregava, inclusive o “Felizes para Sempre” encerrava qualquer último capítulo. Hora essa, por que haveria de ser diferente?

Então, aos oito anos, um acontecimento doloroso invadiu o corpo da pequena menina morena, de cabelos lisos, magra e sorridente. Minha família estruturada, completa e feliz perdeu um de seus pilares fundamentais de sustentação. Em duas semanas, da descoberta do câncer ao óbito, meu pai se foi, apagando por um tempo o cor-de-rosa que me protegia do mundo real. Sim, a realidade apareceu muito cedo. Uma criança de oito anos, com um irmãozinho de dois e uma mãe, que sempre fora apaixonada pela família, agora sem prumo, sem peso, sem sorrisos. Foi barra.

Mas quem pensa que parei de escrever está enganado. Comecei a escrever mais e mais, só que de uma forma diferente. Punha no papel as minhas dores, as minhas angústias. Questionava o limbo, escrevia cartas de consolação, além de estórias fantasiosas envolvendo anjos e um mundo sobrenatural. Desenhava em palavras, as minhas lágrimas e a minha saudade, que ainda não tinham total percepção sobre a dimensão que a morte exercia.

Percebi que escrever além de criar, era expor, compartilhar e questionar. Ah, como floresceu uma das minhas principais características de hoje, a de ser questionadora. Percebi que acontecimentos eram questionáveis e que precisava de muitas respostas. Mas identifiquei que perguntar era ainda mais significativo. A pergunta vem de uma mente que avalia um conteúdo físico ou emocional e não se contenta com o exposto. Perguntar é viver. Nem sempre haverá a solução. Mas a importância de não absorver como uma esponja o que é imposto traz um alívio para a alma.

Como toda mãe, orgulhosa como só essa raça pode ser e bibliotecária, apaixonada e principal incentivadora, ela apresentou meus textos a pessoas ligadas à área. Quiseram publicar. Havia mais de duas ilustradoras, editoras interessadas. Então parei de escrever e escondi meus textos. Não queria estar em evidência, não queria que meus pensamentos e minhas criações ficassem sujeitos a uma sociedade crítica e por vezes cruel. Tive medo. Medo mesmo. Não sei se hoje recusaria uma proposta dessas, mas não posso alterar o passado.

Enfim, passado um tempo, voltei a escrever nas minhas horas vagas. Fui crescendo e aperfeiçoando o que tinha aprendido até o momento. Escrevia contos, crônicas, textos sem categorias válidas, pensamentos, reflexões e etc.

Hoje curso jornalismo. Estou no segundo ano já e o tempo passou muito rápido. Acho que encontrei uma profissão que permite que a força das palavras possa influir na sociedade de uma forma direta ou indireta e proporcionar a conscientização, a mudança, a exposição da verdade. Virtude mais importante, em minha singela opinião. Lógico que essa é uma visão utópica. Mas quem não alimenta uma utopia de algo que ama?

Está certo, chega de lamúrias. Não estou sendo prolixa, mas era importante contextualizar. Quer dizer, eu acho. A resposta já está quase saindo. Só gostaria de ressaltar que a leitura é um ingrediente fundamental para quem tem a pretensão de conseguir adquirir um vocabulário grande o suficiente pra expor as idéias, que com certeza, já são por natureza, superiores a qualquer forma de representação.

A resposta (aleluia)

Escrever é terapêutico, é libertador. Principalmente se você possui um espírito selvagem ou uma alma livre reprimida pela sociedade opressora.

A escrita proporciona o encontro seu com você, de seu coração com seu cérebro, de sua composição material e imaterial. De suas perspectivas e seus medos, de seus anseios e bloqueios, de suas dores e seus antídotos.

A cada movimento que constrói uma palavra, um suspiro de alívio atinge e tranqüiliza a mente frenética. Com a escrita você realiza suas maiores fantasias, expõe o que jamais seus lábios seriam capazes de dizer.

É ser racional e inconseqüente. Exatamente. É possível construir paradoxos complementares e autênticos. Quando escreve, você se torna arquiteta de suas próprias contradições, além de ilusionista, manipuladora ou realista. Pode ser dura com textos densos e pesados, pode ser sutil como um bater de asas ou o que quiser.

Escrever revigora a capacidade de pensar e construir. O que somos senão seres pensantes dispostos a deixar alguma mensagem nesse mundo, no qual a única certeza que o envolve, é que estamos de passagem.

Deixe uma mensagem nesse mundo. Um relato, uma carta de despedida, uma proposta de mudança ou uma lástima da vontade de viver mais, uma frase em uma garrafa. Deixe seu último suspiro, ou seu primeiro amor, deixe seu ódio e sua paixão. Derrame sobre todos sua complexidade com ser. Escreva.

Escreva, pois, a cada vírgula você provoca uma reação. Altera o percurso de uma vida, anexa um ideal ou contrapõe dogmas. Esqueça as críticas. Ou as ouça e as interprete, avaliando o que é construtivo. Cuidado com os outros, a liberdade de expressar não deve ferir a ninguém, pelo menos, não de propósito.

E apenas coloque um ponto final quando achar que terminou esse, para começar outro. Boa sorte.



Morte, nem aqui e nem nunca



Pessoas amadas não deveriam morrer. Não, não deveriam. Pessoas amadas guardam dentro delas, pedaços nossos. Pedaços de sorrisos, de planos, de afetividade, de compartilhamento, de emoção e de identidade. Sim, pessoas amadas constituem parcela do nosso ser e aderem pitadas de nostalgia e sonhos em nossa subjetividade. Pessoas amadas nos garantem um norte, uma linearidade na busca da realização e são companhias indispensáveis.


Quando elegemos a quem dividir o nosso amor, não escolhemos por acaso. É uma escolha minuciosa e ao mesmo tempo, estritamente natural que ocorre de forma espontânea e intensa, veloz e avassaladora.


Algumas pessoas amamos desde o nosso nascimento, quando o choro é interrompido por um simples contato de pele, que providencia imediatamente, segurança e ternura. De quem mais eu poderia estar me referindo? Com raras exceções, aprendemos o amor com nossas mães (ou mulheres que cuidaram de nos e nos amaram da mesma forma que a figura materna está sujeita em seu arquétipo). A mãe nos mostra o amor incondicional no cafuné, nas neuras, nas broncas, nos risos, nos castigos e na comida na boca. E logo, crescemos ao lado dela, e de nosso pai, que em segundo lugar, vem ocupando um espaço significativo em nossas almas. O amor dos pais é único e não pode ser dispensado, porque além da sensação boa que nos traz, é responsável por formar o caráter e muitas características para lá de importantes que desde cedo cravadas, esboçarão significados nos viés que a vida disponibilizar, obrigar ou rodear nossos corpos.


E então, depois de todo esse tiroteio amoroso, iniciamos nosso círculo de convivência social, onde aprendemos nas diferenças encontrar as semelhanças e a partir disso, amar. Às vezes, a decepção é três vezes mais forte que o próprio amor que concedemos a determinado elemento. Mas amar, vale a pena, sempre.


O amor é um sentimento único que esboça um sentido puro e sem alicerces relacionados á interesses, categorias. É um sentimento nobre da tabela sentimental da vida. Extravasa o espaço físico e visual e se desmancha em atitudes de dedicação, apreço e respeito. Com o amor, novos substantivos surgem, como a ternura, a felicidade, a alegria, o êxtase, a tranquilidade, e, até mesmo, a paz.


Depois de nosso círculo social, aprendemos um novo tipo de amor. O amor entre duas pessoas. O amor romântico, ou mesmo, ousado. Pode ser platônico, inaceitável, inaudível ou impronunciável. Pode ser mão dupla ou unilateral, pode constituir o bem, como também o mal. Mas é um amor diferente, que é capaz de quebrar corações e restituí-los. Trazer paixão e dor. É um paradoxo universal, procurado, investigado, curtido, sonhado.


Existem ainda amores paralelos. De irmão, de vó, tio, cunhado, de cachorro, gato, papagaio. Mas mesmo que difícil de ser explicado, todo mundo sabe o que é o amor ou ao menos o sentiu passar alguma vez pela vida. Quem não viu, não quis ver. Pois o amor está difundido em todas as esferas globais, universais e até mesmo em gibis.
Depois de todo o aprendizado que passamos, ao absorver o amor que nos é dado, retribuir, amar novos horizontes, dedicar esse sentimento intensamente á determinada categoria, temos de aprender a lidar com algo: A morte. Eu particularmente acho que morte e pessoas amadas é uma combinação grotesca que no momento da criação desse mundo jamais deveria ter sido aceita. Eu reprovaria, sem sobra de dúvidas.


Como assim, nós, em nossa fragilidade humana, temos de lidar com o distanciamento definitivo de alguém/algo que simplesmente colocamos um pouco de nós? Por que aceitar que uma alegria padeça? Por que permitir que um abraço se esvaia, que as palavras e ações se tornem uma mera memória gostosa e altamente dolorida? Por que? Alguém vê lógica nessa situação apresentada? Revolto-me e digo: Não. Não aceito.

O mundo dos Amélie Poulain

Sensíveis, românticos, introspectivos, generosos e com algumas derramadas de lágrimas dos olhos, são vistos aqueles que se identificam com a personagem Amélie Poulain, do famoso filme francês de 2001. Com o aguçamento dos sentidos mais nobres, hoje choram com as injustiças e lutam pela mínima visão positiva sobre as delicadezas da vida.
         O filme, nada convencional e com a ausência de manobras visuais grotescas, marca da atual indústria do cinema, traz à tona, por meio do diretor Jean-Pierre Jeunet, o charme da vida. Das pequenezas, das dores suprimidas, dos anseios mais subjetivos que tomam a alma é que são avaliados um fardo ou um sentido de vida. A personagem principal, Amélie, embalada em suas dores amadurecidas, constrói um novo panorama de visão, que propicia o despertar para um olhar gentil e cauteloso sobre a vida, resultando em ações cotidianas que devolvem essência aos passos sombrios que cercaram todo o seu crescimento. A opacidade em sua vida familiar é substituída pela incansável busca em suprir as carências e obstáculos de terceiros, por vezes, desconhecidos. A generosidade é dividida em um misto de criatividade e audácia ao realizar os feitos, predominantemente, anônimos.
         Em sua incessante ação de feitos solidários (ou levemente vingativos à maldade), em troca da recompensa de sorrisos e contentamentos alheios, ela acaba por esbarrar em uma situação que a coloca novamente em prática de suas doações. Não fosse seu coração a disparar, não seria tão difícil finalizar seu cotidiano. Com a bondade escancarada em suas poucas palavras pronunciadas, Amélie por hora, apaixonada, enfrenta a dor de lidar com os próprios sentimentos, sufocados em uma esfera nada atingível, colocada, talvez, como forma de defesa pessoal às dores de seu passado. Nesse paradoxo imensurável a história se desenvolve. Em seus vãos momentos, ela se contesta sobre a inabalável estrutura alienada em que paira seu interior, emaranhado no medo e no distanciamento. Uma moça jovem, autêntica, que falha na coragem de seguir seus próprios sonhos e emoções.
         Para mim, inesquecíveis, o filme e a personagem vivida pela atriz Audrey Tautou marcam, com poesia, o cotidiano frenético da vida que passa despercebida aos olhos de seus habitantes. Abrindo o paradigma do mecânico e repetitivo, as doces harmonias e travessuras de Amélie brindam ao sutil e profundo requisito existencial valioso e desprezado desde a estrutura econômica até a alienação profunda e vã das ganâncias humanas. O prazer das mínimas experiências encontra seu altar no coração da jovem sonhadora.
         A história é detalhista e foca na avaliação das características e perfis dos personagens. Uma análise subjetiva, mostrada por meio de dados aleatórios à vida dos integrantes. Categoricamente sensível, o filme mostra nuances íntimos e esquecidos.
Curioso e extremamente metafórico, é o personagem dos “ossos de vidro”. Idoso, portador de doença congênita que o impede de sair de casa para evitar acidentes, é o homem que mais atinge os pensamentos de Amélie. As analogias feitas em suas pinturas promovem a discussão entre ambos sobre os entraves da vida, perpassando as expressões dos elementos que compõem o quadro. Através dessas conversas indiretas, a jovem personagem expõe seus conflitos existenciais de modo discreto e peculiar e obtém sábias respostas que interferem em suas perspectivas e posteriormente, em suas ações finais.

Um filme que não poderia ser mais atual. De tão essência, torna-se poesia. Sensível, provoca reações no adormecimento das emoções e resgata o que há de puro em cada espectador. Transforma o que está estático em aspiração de mudança. Em um mundo em que o combustível é o dinheiro, a obra traz a recompensa em forma de emoções simples e intensas, que engrandecem e satisfazem. Na tirania e egoísmo do dia-a-dia, um toque de delicadeza pode enaltecer pontos de bondade. Por que o sonhador é catastrófico? A catástrofe pode estar na morte dos sonhos, na ausência de abraços, na condenação da doação e nos rótulos impostos por uma moderna sociedade tecnológica e ao mesmo tempo, arcaica em seus quesitos espiritual e altruísta.

Sobre a Metamorfose


Mergulhado em suas preocupações cotidianas aflitivas que o machucavam a cada instante ao pensar que ele, pilar fundamental econômico da família, já impotente, de nada seria útil para o auxílio desta, não percebe que sua situação de metamorfoseado seria o grotesco da história e não sua ausência trabalhista. Trata-se de Gregor Samsa, que em uma manhã determinada, vê-se em um corpo estranho e tem de lidar com sua nova realidade.


Críticas contundentes e de certa forma, camufladas em uma bela história de ficção, Kafka descreve o que há de podre na sociedade, com seus valores distorcidos que reduzem a existência humana a um conjunto de ações mecânicas e frenéticas que devem obedecer a ordem ditada pela época, que de bela não tinha nada.


O ser (que não necessariamente é humano) é reduzido a um peso sobrenatural a partir do momento em que este não mais dispõe para a família e sociedade quaisquer vantagens e comodismos para sua sustentação. A valorização não aprecia a alma, a subjetividade e os feitos emotivos e irracionais que constroem relações, e sim a porcentagem de contribuição para a medíocre vida exposta de forma cruel e tão cotidiana.


A solidão de pensamentos, exposta de modo trágico e real, demonstra o enlouquecimento de uma mente sã que, presa entre um cômodo vazio e fúnebre, começa a desvencilhar suas ligações lógicas e memoriais para uma penumbra dolorosa de confusão mental. A solidão que é demonstrada na passagem do tempo também apavora leitores que temem serem deixados à sarjeta quando não mais forem úteis aos seus parceiros, ou mais conhecidos como integrantes da sagrada “família”, instituição histórica declarada generosa.


O que seria de um vazio exposto então à sociedade? Uma sociedade fria, que exige das vidas a massificação robótica e o cumprimento de ordens lucrativas? Uma sociedade que não aprendeu a compreender a dor alheia, a doença, o obstáculo, que suga a vida daqueles que tentam contribuir com algo, para retirar um pouco de sustento básico.


Entregamos nossa energia e sanidade mental e física para comer e podermos sustentar um corpo cansado, esgotado das cobranças infindáveis daqueles que destruíram até o próprio planeta com a desculpa de torná-lo melhor aproveitado (economicamente, obviamente, com a mínima distribuição de renda aceitável).


Prédios se erguem e pessoas caem. Alguns arrotam dólares e outros apodrecem a espera de um copo de água. Filas de doentes a agonizar, enquanto jatos banhados a uísque pousam em paisagens paradisíacas vendidas e restritas.

A classe trabalhadora perde o direito à vida, enquanto cumpre a obrigação do trabalho. Não existe piedade quando se tem a ganância. Qualquer vantagem deve ser extraída. Quem se importa com câimbras, convulsões, depressão e afins quando se pode encher o bolso ao fim do mês? Quanto vale um amor se este não for provedor?


Kafka trouxe à tona uma dor invisível. O desprezo pelo o que deveria ser o fundamental. Expôs o atentado à memória, às boas lembranças, à consideração e à gratidão. Destrinchou o podre da sociedade divisora de funções, que estão acima de qualquer valor humano. A virtude torna-se um lixo altamente dispensável e perigoso para a manutenção da ordem. A submissão é ensinada desde o berço e a morte é inevitável. (Só não pretenda morrer sem ser trabalhando para seu superior).


E, se dentro de cada um de nós, um imenso besouro estivesse a surgir? O besouro que nos impede de colocar dinheiro dentro de casa. O besouro da fraqueza, da indisposição, da doença, da dor, da velhice? Devemos então descartar uns aos outros por momentânea debilitação? Devemos rasgar nossas almas e pisoteá-las tais como na carcaça de um besouro? Ou devemos trancar nossas dores em um quarto escuro até que morram e nunca mais voltem a nos perturbar? Devemos nos policiar e impedir o sentir?


É muito sensível que um escritor tenha a capacidade de entregar em palavras subjetivas a denúncia da dor vivida por uma sociedade alienada em suas catequizações forçadas. Uma ficção mais realista que uma fotografia. Uma metáfora única, sincera, inquestionável.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Futebol, política e religião...

É humanamente impossível agradar a todos. Seu livro de cabeceira, que você presta devoção, pode ser julgado piegas, fraco, clichê por outrem. Suas atitudes podem ser condenadas, mesmo quando cada passo é pensado e sua motivação é acertar. Podem maldizer de suas escolhas, de sua carreira, de seu modo de viver. Portanto, o essencial para prestigiar o viver, é seguir o próprio coração. Ele guarda as suas inquietações, desejos e medos. E é a partir dele que se deve trilhar o próprio caminho. Que a subjetividade prevaleça, acima das cobranças expostas por uma sociedade que visa padronizar a cada instante, seus seres, tão contrastantes.

Sobre as manifestações

Não espere de um jornalista e nem de um aspirante a um, o silêncio. Não espere de nós, o comodismo, o deixa para lá. Escolhemos essa profissão para que possamos fazer a diferença e transformar opiniões. Abrir os olhos dos cidadãos para a verdade imparcial é o nosso dever. Não nos agridam por estarmos fazendo o que nos foi ensinado, na teoria e na prática. Não nos agridam por estarmos cumprindo o nosso trabalho justamente como vocês, que dizem estar cumprindo o que foi ordenado. Jornalistas também seguem ordens, padrões e a nossa ética, que também deveria ser a de vocês. Se suas armas são de fogo, as nossas são feitas de palavras. Palavras que mudam o mundo, que comovem milhares e que não irão cessar, por mais que sejam repreendidas.

segunda-feira, 4 de março de 2013

E eu vou, sem mais delongas, tirar a minha blusa devagar, para que assim seu olhar acompanhe a cada movimento meu, a cada inspiração profunda, terna e ofegante. Quero que cada resquício do vago se esvaia e a certeza inconsciente se alastre para a chama. A certeza do que é conectado, agitado e que forma seu próprio compasso nas reviravoltas de movimentos ordenados por ninguém. Que a sua boca sustente a cada suspiro meu, e que ela o guie, para que as minhas energias sejam jogadas contra a sua pele. Quente.
Segure a minha mão, apenas encostando nela, para que o contato mínimo a prenda e a esquente. Cada toque do indicador representará teias de pecado. Um pecado tão puro que é divino, tão voraz que sacia a fome e tão confuso que distancia-se da razão.
Não que eu seja presunçosa e imoral, mas não existem regras e nem relatos que superem o que passa em dois corpos desorientados e com um estranho sorriso no rosto que permanece durante a erupção. Posso gritar? Não há nada que me limite agora. Apenas o peso de seus braços a me envolver a cada segundo mais. Paro para me perguntar se nos fundimos ou minha consciência foi levada para junto de sua alma.
É tão lindo, ai, ai, é tão lindo.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O ciúme

Tão difícil administrar um sentimento novo e forte. O qual eu pensava já ter sentido. O qual eu julgava ser controlável e opcional, mas que posso perceber que nem sempre será possível estabelecer qualquer forma de controle: O ciúme. Comecemos o julgamento, as frases feitas e os clichês aplicáveis... Todos se referem ao ciúme como doença de uma pessoa insegura e com problemas psicológicos. Talvez eu já tenha pensado assim. E então me dou conta do quão doloroso e angustiante esse sentimento pode ser e o quanto incapaz de ser forjado ou manipulado ele é. É uma dor lancinante que se dissipa em uma forma enérgica bastante negativa... Atinge a razão e as emoções e passa a controlá-las de maneira frenética e tortuosa. Não existem limites de segurança e muito menos justificativas plausíveis.
O real motivo para sua existência não pode ser simplesmente apresentado como fator geral, pois suas razões são maleáveis, subjetivas e únicas. E tudo depende de um referencial e de uma perspectiva. Não consigo avaliar perfeitamente seu começo e seu fim. Apenas posso sentir aquele líquido amargo que percorre meu corpo quando ele surge. A minha vontade muitas vezes se torna perigosa e perversa... Tento controlar meus impulsos físicos e emocionais... Pelo menos até outro momento de crise. O ciúme é uma droga. Altamente perigosa. Pode destruir relacionamentos, corações e até vidas.
Não tenho uma solução para controlá-lo... Acho que preciso de ajuda ou um pouco de alto controle... Alguém pode me ajudar? Tem alguém ai? E ai estou... Na batalha para vencer meus próprios limites. Pois no final, sempre estarei aqui para me ajudar. A vida é cada um por si. E não temos manuais a serem seguidos... Cada um vai construindo sua história. Através dos erros, buscando acertos. Só espero não errar de uma maneira que qualquer ato de tentativa de reversão fosse negada...

Mecanização da alma

A tecnologia nos deixou doentes. A instantaneidade nos tornou impacientes. A agilidade nos tornou superficiais. Estamos todos ligados por redes sociais e tão distantes de nós mesmos. Construímos pensamentos a partir de manifestações de massa, que a cada segundo, oferecem um ponto de vista restrito e tendencioso. Usamos de artifícios cada vez mais rebuscados para tentar expor, por meio de máquina, o que somos ou o que tentamos ser. As respostas prontas sanaram as perguntas, que um dia poderiam levar a outras descobertas. As tendências exalam estereótipos prontos, formatados, editados e incrivelmente comuns. Não sabemos onde começa e termina o limite do que é cobrado, ou o que parte de nossa vontade ou essência... Não sabemos mais andar sem as coordenadas do GPS, nem mesmo observar um lugar bonito, sem ser por trás das lentes de uma câmera, que logo servirá de ponte para postagens. Não sabemos mais exercer a singularidade e nem mesmo trilhar os próprios caminhos. Há uma força muito intensa que nos empurra, e que por meio de verdades inexpressivas e argumentações frágeis, determina o modo de andar, de pensar, de agir e de sentir. Não há espaço para sonhos fantasiosos, pois tudo baseia-se no que é material. Não há espaço para sentimentalismos, pois cobra-se a objetividade. Não há espaço para enxergar, apenas ver, nem escutar... Apenas ouvir. A insensibilidade veio como uma nova doutrina. A criatividade se tornou uma ameaça e o dinheiro, o novo rei.