Recontar uma estória, a sua própria estória. Foi isso o que a grandiosa Disney fez quando estreou “Malévola”, uma reconstrução da clássica e consagrada animação “A Bela Adormecida” de 1959, baseado no conto de fadas homônimo do autor Charles Perrault. Esta primeira versão trazia à tona a trajetória da princesa Aurora, amaldiçoada desde o nascimento pela terrível bruxa Malévola, que a condenou ao sono eterno aos 16 anos, quando por descuido, furasse o dedo em uma roca. O único antídoto exposto pelo desenho para a reversão da situação seria um beijo de amor verdadeiro, o que foi feito pelo charmoso príncipe Felipe. A primeira edição seguia à risca os paradigmas doutrinados em todas as manobras destinadas ao público infantil: O bem e o mal. A luz e a treva. O “Felizes para Sempre” com a união de um casal.
Em pleno século XXI, ocorre um resgate ao mítico relato: Malévola, vivida pela atriz Angelina Jolie, estreia com o intuito de retratar a ficção por uma nova ótica: A amplitude da personalidade da vilã em primeiro plano, desde sua complexidade subjetiva até os desígnios que a fizeram atingir o ápice de sua crueldade. Um desafio intenso destrinchar a primeira versão do filme, para expor então as dores e feridas do ser humano e demonstrar, talvez, que a linha entre o bem e mal é muito mais tênue do que aparenta ser nas demonstrações aos pequenos admiradores. As qualidades e perversidades se mesclam no desenrolar da narrativa de modo a confundir o telespectador que se questiona sobre o julgamento cru que é feito diariamente a todos ao redor.
A bruxa, na nova versão, é mostrada como fada desde sua infância, quando exercia a função de órfã guardiã de um reino encantado. Porém, Malévola é ferida pelo pai de Aurora, Stefan, com quem durante a infância compartilhou um delicado amor juvenil. Cego pela ganância de se tornar rei, Stefan é responsável por trazer a maior dosagem de rancor e desumanidade para a antiga doce menina, de olhos translúcidos e alma pura. A traição exposta no filme derrama indignação e dor. Nada de traição carnal. A deslealdade se fixa no furto das elementares asas da fada, que além de mecanismo de sustentação, representam, metaforicamente, sua liberdade.
Prostrada em sua nova condição, a fada começa a perecer vagarosamente juntamente com suas esperanças e sentimentos nobres. Uma nova carcaça sobrepõe, destilando ódio e ira, em busca de uma vingança à altura de sua perda emocional e física. A fada, que agora, é bruxa decide lançar um feitiço sobre a filha recém-nascida de Stefan, que havia se tornado rei. Essa parte do relato é fidedigno ao início da primeira animação. O rei então ordena que a criança seja criada em um vilarejo, em um disfarce de camponesa, por suas três fadas madrinhas. Em vão, Malévola acompanha cada passo da criança, com o auxílio de um corvo.
O ódio que ela tem pela representação da linhagem de sua maior decepção, começa sutilmente, a se converter em um laço um tanto quanto obscuro. Ela luta contra o sentimento que começa a crescer pela ingenuidade e doçura de Aurora, vivida pela jovem Elle Fanning. Despida de preconceitos, Aurora se encontra com Malévola e a trata como um anjo protetor que esteve ao seu lado em todo o seu crescimento. Perdida em contradições, a protagonista demora a admitir que o amor que viria para unir era maior que sua sede pelo justiçamento impiedoso. Arrependida pelo feitiço, Malévola tenta revertê-lo, mas se frustra. Busca alternativas, entre elas, um pretendente. Em vão. O ponto forte do longa é a solução para o percalço. O beijo de amor viria da própria vilã, que como ninguém, amou Aurora com toda a verdade e com o resgate das sobras de sua alma bondosa.
Categoricamente ousado e com um cenário visual extremamente agradável ao público, principalmente o infanto-juvenil, a estória mescla o obscuro com o gracioso. Apesar do caráter infantil, reflexões são delineadas para o público adulto ao retratar as faces da peculiaridade humana. Intrínseco a todos, as posturas que caracterizam a virtude ou o perverso, podem estar escondidas nas experiências vividas por cada um dentro de seus limites emocionais e psicológicos. Simplificando, não existe a linha que divide o campo em dos hemisférios opostos. Apenas caminhos trilhados, escolhas feitas e dores e conquistas. Vale ressaltar que existe retorno quando o caminho está pesado. A compaixão e o perdão se mostram como valores fundamentais da estrutura.
Por fim, o traço feminista de que não necessariamente para alcançar a felicidade é preciso estar à mercê da vinda do príncipe encantado foi uma aposta, que em minha opinião, deu certo. O amor não é exposta em sua forma padrão e massificada.
Apesar de suas contradições e expressões fantasiosas em excesso, o filme se diferencia em sua essência, por sua ousadia, inovação e fotografia. Um blockbuster dirigido por Robert Stromberg, que incita dúvidas, questionamentos e um pouco de doçura para um público que enfrenta diariamente a realidade, com maldade o suficiente, porém sem arrependimento e sem conversão.
Em pleno século XXI, ocorre um resgate ao mítico relato: Malévola, vivida pela atriz Angelina Jolie, estreia com o intuito de retratar a ficção por uma nova ótica: A amplitude da personalidade da vilã em primeiro plano, desde sua complexidade subjetiva até os desígnios que a fizeram atingir o ápice de sua crueldade. Um desafio intenso destrinchar a primeira versão do filme, para expor então as dores e feridas do ser humano e demonstrar, talvez, que a linha entre o bem e mal é muito mais tênue do que aparenta ser nas demonstrações aos pequenos admiradores. As qualidades e perversidades se mesclam no desenrolar da narrativa de modo a confundir o telespectador que se questiona sobre o julgamento cru que é feito diariamente a todos ao redor.
A bruxa, na nova versão, é mostrada como fada desde sua infância, quando exercia a função de órfã guardiã de um reino encantado. Porém, Malévola é ferida pelo pai de Aurora, Stefan, com quem durante a infância compartilhou um delicado amor juvenil. Cego pela ganância de se tornar rei, Stefan é responsável por trazer a maior dosagem de rancor e desumanidade para a antiga doce menina, de olhos translúcidos e alma pura. A traição exposta no filme derrama indignação e dor. Nada de traição carnal. A deslealdade se fixa no furto das elementares asas da fada, que além de mecanismo de sustentação, representam, metaforicamente, sua liberdade.
Prostrada em sua nova condição, a fada começa a perecer vagarosamente juntamente com suas esperanças e sentimentos nobres. Uma nova carcaça sobrepõe, destilando ódio e ira, em busca de uma vingança à altura de sua perda emocional e física. A fada, que agora, é bruxa decide lançar um feitiço sobre a filha recém-nascida de Stefan, que havia se tornado rei. Essa parte do relato é fidedigno ao início da primeira animação. O rei então ordena que a criança seja criada em um vilarejo, em um disfarce de camponesa, por suas três fadas madrinhas. Em vão, Malévola acompanha cada passo da criança, com o auxílio de um corvo.
O ódio que ela tem pela representação da linhagem de sua maior decepção, começa sutilmente, a se converter em um laço um tanto quanto obscuro. Ela luta contra o sentimento que começa a crescer pela ingenuidade e doçura de Aurora, vivida pela jovem Elle Fanning. Despida de preconceitos, Aurora se encontra com Malévola e a trata como um anjo protetor que esteve ao seu lado em todo o seu crescimento. Perdida em contradições, a protagonista demora a admitir que o amor que viria para unir era maior que sua sede pelo justiçamento impiedoso. Arrependida pelo feitiço, Malévola tenta revertê-lo, mas se frustra. Busca alternativas, entre elas, um pretendente. Em vão. O ponto forte do longa é a solução para o percalço. O beijo de amor viria da própria vilã, que como ninguém, amou Aurora com toda a verdade e com o resgate das sobras de sua alma bondosa.
Categoricamente ousado e com um cenário visual extremamente agradável ao público, principalmente o infanto-juvenil, a estória mescla o obscuro com o gracioso. Apesar do caráter infantil, reflexões são delineadas para o público adulto ao retratar as faces da peculiaridade humana. Intrínseco a todos, as posturas que caracterizam a virtude ou o perverso, podem estar escondidas nas experiências vividas por cada um dentro de seus limites emocionais e psicológicos. Simplificando, não existe a linha que divide o campo em dos hemisférios opostos. Apenas caminhos trilhados, escolhas feitas e dores e conquistas. Vale ressaltar que existe retorno quando o caminho está pesado. A compaixão e o perdão se mostram como valores fundamentais da estrutura.
Por fim, o traço feminista de que não necessariamente para alcançar a felicidade é preciso estar à mercê da vinda do príncipe encantado foi uma aposta, que em minha opinião, deu certo. O amor não é exposta em sua forma padrão e massificada.
Apesar de suas contradições e expressões fantasiosas em excesso, o filme se diferencia em sua essência, por sua ousadia, inovação e fotografia. Um blockbuster dirigido por Robert Stromberg, que incita dúvidas, questionamentos e um pouco de doçura para um público que enfrenta diariamente a realidade, com maldade o suficiente, porém sem arrependimento e sem conversão.