"Vivemos em uma sociedade fútil. Não seja como os outros. Não deixe de ser você mesmo. Não perca sua própria essência".
Não me escondo sempre. Porém quando faço, é difícil me encontrar. Minhas emoções são seletivas... Demonstro à aqueles seres livres e puros que tanto me encantam a cada dia. Não gosto de maldade. Aprecio o ócio e o pensamento. Sou atraída por olhares... Transparentes, misteriosos. Julgo a ignorância o mal da sociedade e o fetichismo a razão dos relacionamentos voláteis e mecânicos. Religião é dúvida e amor é crença. Sorrisos são enérgicos e amigos são anjos. Não tenho a pretensão de ser a melhor, mas boa o bastante para aqueles que prezo. Acredito na classe e na postura. Sem clichês fúteis.
Gosto de abraços fortes, entregas verdadeiras, desejo e paixão.
Não me obrigue a concordar e não tente me prender. Minha alma é livre como um pássaro. Meu coração é honesto. Penso sim antes de falar. Me machuco rápido e sou sensível. Mas também sou forte e guerreira. Não me conte mentiras, por mais lindas que sejam. Se eu amar, amarei. Se chorar, chorarei. Portanto, vou viver.
segunda-feira, 5 de maio de 2014
Por que escrever?
Sou questionada a todo instante. Você cursa jornalismo por quê? Uma das repostas é sem dúvidas, porque gosto de escrever. E então a segunda pergunta, já quase nem escuto. Já sei exatamente a quantidade de sílabas e a entonação... Por quê? Gosta de escrever por quê?
Resolvi então parar de usar do meu discurso padronizado, robotizado e impaciente para responder a essa pergunta e justamente usar a escrita para explicar a graça de colocar as idéias para fora em um papel, em um guardanapo, no bloco de notas do celular ou no Word.
Não hei de me abster-se a explicar apenas o escrever jornalístico. Não. Até porque quando comecei a escrever, lá pelos meus cinco anos e meio, eu nem sabia a importância do jornalismo e seu poder positivo, negativo, alienante ou mobilizador sobre as pessoas. Hoje sei, mas não vem ao caso.
Escrever para mim é uma arte. Descontínua, intrigante e completamente subordinada a uma perspectiva única: A de quem coloca cada palavra de um vocabulário próprio e as une de forma a transmitir uma mensagem que parte de um imaginário subjetivo, com inclinações que esboçam uma identidade, uma crença, uma luta.
Lembro-me que primeiro escrevi releituras de clássicos da Disney. Sim, eu estava no pré e ao invés de utilizar os lápis de cor para colorir durante a aula de desenho livre, eu tentava manter a coordenação para escrever meia dúzia de palavras, que contavam um fato. Todos os dias eu contava um trecho da estória, até que finalizava e com o ego alto mostrava à professora o livro que havia construído. O prazer era enorme. E ele vinha principalmente pelo poder que eu podia exercer sobre os personagens, cujas características eram modificadas por mim, apenas por mim. Eu tinha domínio sobre as falas, sobre os acontecimentos, sobre os encontros e desencontros. Era muito legal poder retratar a princesa da forma como eu a enxergava, alterar uma mecha no cabelo ou um resquício de sua personalidade. A incrível criação. Criar era poder. Poder de mudar o rumo da história, de tornar real o que antes era restrito ao imaginário.
Até uns dois anos depois eu continuei com a idéia de escrever histórias de princesas, príncipes, fadas, pó mágico e tudo o que o padrão criancês pregava, inclusive o “Felizes para Sempre” encerrava qualquer último capítulo. Hora essa, por que haveria de ser diferente?
Então, aos oito anos, um acontecimento doloroso invadiu o corpo da pequena menina morena, de cabelos lisos, magra e sorridente. Minha família estruturada, completa e feliz perdeu um de seus pilares fundamentais de sustentação. Em duas semanas, da descoberta do câncer ao óbito, meu pai se foi, apagando por um tempo o cor-de-rosa que me protegia do mundo real. Sim, a realidade apareceu muito cedo. Uma criança de oito anos, com um irmãozinho de dois e uma mãe, que sempre fora apaixonada pela família, agora sem prumo, sem peso, sem sorrisos. Foi barra.
Mas quem pensa que parei de escrever está enganado. Comecei a escrever mais e mais, só que de uma forma diferente. Punha no papel as minhas dores, as minhas angústias. Questionava o limbo, escrevia cartas de consolação, além de estórias fantasiosas envolvendo anjos e um mundo sobrenatural. Desenhava em palavras, as minhas lágrimas e a minha saudade, que ainda não tinham total percepção sobre a dimensão que a morte exercia.
Percebi que escrever além de criar, era expor, compartilhar e questionar. Ah, como floresceu uma das minhas principais características de hoje, a de ser questionadora. Percebi que acontecimentos eram questionáveis e que precisava de muitas respostas. Mas identifiquei que perguntar era ainda mais significativo. A pergunta vem de uma mente que avalia um conteúdo físico ou emocional e não se contenta com o exposto. Perguntar é viver. Nem sempre haverá a solução. Mas a importância de não absorver como uma esponja o que é imposto traz um alívio para a alma.
Como toda mãe, orgulhosa como só essa raça pode ser e bibliotecária, apaixonada e principal incentivadora, ela apresentou meus textos a pessoas ligadas à área. Quiseram publicar. Havia mais de duas ilustradoras, editoras interessadas. Então parei de escrever e escondi meus textos. Não queria estar em evidência, não queria que meus pensamentos e minhas criações ficassem sujeitos a uma sociedade crítica e por vezes cruel. Tive medo. Medo mesmo. Não sei se hoje recusaria uma proposta dessas, mas não posso alterar o passado.
Enfim, passado um tempo, voltei a escrever nas minhas horas vagas. Fui crescendo e aperfeiçoando o que tinha aprendido até o momento. Escrevia contos, crônicas, textos sem categorias válidas, pensamentos, reflexões e etc.
Hoje curso jornalismo. Estou no segundo ano já e o tempo passou muito rápido. Acho que encontrei uma profissão que permite que a força das palavras possa influir na sociedade de uma forma direta ou indireta e proporcionar a conscientização, a mudança, a exposição da verdade. Virtude mais importante, em minha singela opinião. Lógico que essa é uma visão utópica. Mas quem não alimenta uma utopia de algo que ama?
Está certo, chega de lamúrias. Não estou sendo prolixa, mas era importante contextualizar. Quer dizer, eu acho. A resposta já está quase saindo. Só gostaria de ressaltar que a leitura é um ingrediente fundamental para quem tem a pretensão de conseguir adquirir um vocabulário grande o suficiente pra expor as idéias, que com certeza, já são por natureza, superiores a qualquer forma de representação.
A resposta (aleluia)
Escrever é terapêutico, é libertador. Principalmente se você possui um espírito selvagem ou uma alma livre reprimida pela sociedade opressora.
A escrita proporciona o encontro seu com você, de seu coração com seu cérebro, de sua composição material e imaterial. De suas perspectivas e seus medos, de seus anseios e bloqueios, de suas dores e seus antídotos.
A cada movimento que constrói uma palavra, um suspiro de alívio atinge e tranqüiliza a mente frenética. Com a escrita você realiza suas maiores fantasias, expõe o que jamais seus lábios seriam capazes de dizer.
É ser racional e inconseqüente. Exatamente. É possível construir paradoxos complementares e autênticos. Quando escreve, você se torna arquiteta de suas próprias contradições, além de ilusionista, manipuladora ou realista. Pode ser dura com textos densos e pesados, pode ser sutil como um bater de asas ou o que quiser.
Escrever revigora a capacidade de pensar e construir. O que somos senão seres pensantes dispostos a deixar alguma mensagem nesse mundo, no qual a única certeza que o envolve, é que estamos de passagem.
Deixe uma mensagem nesse mundo. Um relato, uma carta de despedida, uma proposta de mudança ou uma lástima da vontade de viver mais, uma frase em uma garrafa. Deixe seu último suspiro, ou seu primeiro amor, deixe seu ódio e sua paixão. Derrame sobre todos sua complexidade com ser. Escreva.
Escreva, pois, a cada vírgula você provoca uma reação. Altera o percurso de uma vida, anexa um ideal ou contrapõe dogmas. Esqueça as críticas. Ou as ouça e as interprete, avaliando o que é construtivo. Cuidado com os outros, a liberdade de expressar não deve ferir a ninguém, pelo menos, não de propósito.
E apenas coloque um ponto final quando achar que terminou esse, para começar outro. Boa sorte.