"Vivemos em uma sociedade fútil. Não seja como os outros. Não deixe de ser você mesmo. Não perca sua própria essência".



Não me escondo sempre. Porém quando faço, é difícil me encontrar. Minhas emoções são seletivas... Demonstro à aqueles seres livres e puros que tanto me encantam a cada dia. Não gosto de maldade. Aprecio o ócio e o pensamento. Sou atraída por olhares... Transparentes, misteriosos. Julgo a ignorância o mal da sociedade e o fetichismo a razão dos relacionamentos voláteis e mecânicos. Religião é dúvida e amor é crença. Sorrisos são enérgicos e amigos são anjos. Não tenho a pretensão de ser a melhor, mas boa o bastante para aqueles que prezo. Acredito na classe e na postura. Sem clichês fúteis.
Gosto de abraços fortes, entregas verdadeiras, desejo e paixão.
Não me obrigue a concordar e não tente me prender. Minha alma é livre como um pássaro. Meu coração é honesto. Penso sim antes de falar. Me machuco rápido e sou sensível. Mas também sou forte e guerreira. Não me conte mentiras, por mais lindas que sejam. Se eu amar, amarei. Se chorar, chorarei. Portanto, vou viver.


segunda-feira, 5 de maio de 2014

O mundo dos Amélie Poulain

Sensíveis, românticos, introspectivos, generosos e com algumas derramadas de lágrimas dos olhos, são vistos aqueles que se identificam com a personagem Amélie Poulain, do famoso filme francês de 2001. Com o aguçamento dos sentidos mais nobres, hoje choram com as injustiças e lutam pela mínima visão positiva sobre as delicadezas da vida.
         O filme, nada convencional e com a ausência de manobras visuais grotescas, marca da atual indústria do cinema, traz à tona, por meio do diretor Jean-Pierre Jeunet, o charme da vida. Das pequenezas, das dores suprimidas, dos anseios mais subjetivos que tomam a alma é que são avaliados um fardo ou um sentido de vida. A personagem principal, Amélie, embalada em suas dores amadurecidas, constrói um novo panorama de visão, que propicia o despertar para um olhar gentil e cauteloso sobre a vida, resultando em ações cotidianas que devolvem essência aos passos sombrios que cercaram todo o seu crescimento. A opacidade em sua vida familiar é substituída pela incansável busca em suprir as carências e obstáculos de terceiros, por vezes, desconhecidos. A generosidade é dividida em um misto de criatividade e audácia ao realizar os feitos, predominantemente, anônimos.
         Em sua incessante ação de feitos solidários (ou levemente vingativos à maldade), em troca da recompensa de sorrisos e contentamentos alheios, ela acaba por esbarrar em uma situação que a coloca novamente em prática de suas doações. Não fosse seu coração a disparar, não seria tão difícil finalizar seu cotidiano. Com a bondade escancarada em suas poucas palavras pronunciadas, Amélie por hora, apaixonada, enfrenta a dor de lidar com os próprios sentimentos, sufocados em uma esfera nada atingível, colocada, talvez, como forma de defesa pessoal às dores de seu passado. Nesse paradoxo imensurável a história se desenvolve. Em seus vãos momentos, ela se contesta sobre a inabalável estrutura alienada em que paira seu interior, emaranhado no medo e no distanciamento. Uma moça jovem, autêntica, que falha na coragem de seguir seus próprios sonhos e emoções.
         Para mim, inesquecíveis, o filme e a personagem vivida pela atriz Audrey Tautou marcam, com poesia, o cotidiano frenético da vida que passa despercebida aos olhos de seus habitantes. Abrindo o paradigma do mecânico e repetitivo, as doces harmonias e travessuras de Amélie brindam ao sutil e profundo requisito existencial valioso e desprezado desde a estrutura econômica até a alienação profunda e vã das ganâncias humanas. O prazer das mínimas experiências encontra seu altar no coração da jovem sonhadora.
         A história é detalhista e foca na avaliação das características e perfis dos personagens. Uma análise subjetiva, mostrada por meio de dados aleatórios à vida dos integrantes. Categoricamente sensível, o filme mostra nuances íntimos e esquecidos.
Curioso e extremamente metafórico, é o personagem dos “ossos de vidro”. Idoso, portador de doença congênita que o impede de sair de casa para evitar acidentes, é o homem que mais atinge os pensamentos de Amélie. As analogias feitas em suas pinturas promovem a discussão entre ambos sobre os entraves da vida, perpassando as expressões dos elementos que compõem o quadro. Através dessas conversas indiretas, a jovem personagem expõe seus conflitos existenciais de modo discreto e peculiar e obtém sábias respostas que interferem em suas perspectivas e posteriormente, em suas ações finais.

Um filme que não poderia ser mais atual. De tão essência, torna-se poesia. Sensível, provoca reações no adormecimento das emoções e resgata o que há de puro em cada espectador. Transforma o que está estático em aspiração de mudança. Em um mundo em que o combustível é o dinheiro, a obra traz a recompensa em forma de emoções simples e intensas, que engrandecem e satisfazem. Na tirania e egoísmo do dia-a-dia, um toque de delicadeza pode enaltecer pontos de bondade. Por que o sonhador é catastrófico? A catástrofe pode estar na morte dos sonhos, na ausência de abraços, na condenação da doação e nos rótulos impostos por uma moderna sociedade tecnológica e ao mesmo tempo, arcaica em seus quesitos espiritual e altruísta.