"Vivemos em uma sociedade fútil. Não seja como os outros. Não deixe de ser você mesmo. Não perca sua própria essência".



Não me escondo sempre. Porém quando faço, é difícil me encontrar. Minhas emoções são seletivas... Demonstro à aqueles seres livres e puros que tanto me encantam a cada dia. Não gosto de maldade. Aprecio o ócio e o pensamento. Sou atraída por olhares... Transparentes, misteriosos. Julgo a ignorância o mal da sociedade e o fetichismo a razão dos relacionamentos voláteis e mecânicos. Religião é dúvida e amor é crença. Sorrisos são enérgicos e amigos são anjos. Não tenho a pretensão de ser a melhor, mas boa o bastante para aqueles que prezo. Acredito na classe e na postura. Sem clichês fúteis.
Gosto de abraços fortes, entregas verdadeiras, desejo e paixão.
Não me obrigue a concordar e não tente me prender. Minha alma é livre como um pássaro. Meu coração é honesto. Penso sim antes de falar. Me machuco rápido e sou sensível. Mas também sou forte e guerreira. Não me conte mentiras, por mais lindas que sejam. Se eu amar, amarei. Se chorar, chorarei. Portanto, vou viver.


segunda-feira, 5 de maio de 2014

Sobre a Metamorfose


Mergulhado em suas preocupações cotidianas aflitivas que o machucavam a cada instante ao pensar que ele, pilar fundamental econômico da família, já impotente, de nada seria útil para o auxílio desta, não percebe que sua situação de metamorfoseado seria o grotesco da história e não sua ausência trabalhista. Trata-se de Gregor Samsa, que em uma manhã determinada, vê-se em um corpo estranho e tem de lidar com sua nova realidade.


Críticas contundentes e de certa forma, camufladas em uma bela história de ficção, Kafka descreve o que há de podre na sociedade, com seus valores distorcidos que reduzem a existência humana a um conjunto de ações mecânicas e frenéticas que devem obedecer a ordem ditada pela época, que de bela não tinha nada.


O ser (que não necessariamente é humano) é reduzido a um peso sobrenatural a partir do momento em que este não mais dispõe para a família e sociedade quaisquer vantagens e comodismos para sua sustentação. A valorização não aprecia a alma, a subjetividade e os feitos emotivos e irracionais que constroem relações, e sim a porcentagem de contribuição para a medíocre vida exposta de forma cruel e tão cotidiana.


A solidão de pensamentos, exposta de modo trágico e real, demonstra o enlouquecimento de uma mente sã que, presa entre um cômodo vazio e fúnebre, começa a desvencilhar suas ligações lógicas e memoriais para uma penumbra dolorosa de confusão mental. A solidão que é demonstrada na passagem do tempo também apavora leitores que temem serem deixados à sarjeta quando não mais forem úteis aos seus parceiros, ou mais conhecidos como integrantes da sagrada “família”, instituição histórica declarada generosa.


O que seria de um vazio exposto então à sociedade? Uma sociedade fria, que exige das vidas a massificação robótica e o cumprimento de ordens lucrativas? Uma sociedade que não aprendeu a compreender a dor alheia, a doença, o obstáculo, que suga a vida daqueles que tentam contribuir com algo, para retirar um pouco de sustento básico.


Entregamos nossa energia e sanidade mental e física para comer e podermos sustentar um corpo cansado, esgotado das cobranças infindáveis daqueles que destruíram até o próprio planeta com a desculpa de torná-lo melhor aproveitado (economicamente, obviamente, com a mínima distribuição de renda aceitável).


Prédios se erguem e pessoas caem. Alguns arrotam dólares e outros apodrecem a espera de um copo de água. Filas de doentes a agonizar, enquanto jatos banhados a uísque pousam em paisagens paradisíacas vendidas e restritas.

A classe trabalhadora perde o direito à vida, enquanto cumpre a obrigação do trabalho. Não existe piedade quando se tem a ganância. Qualquer vantagem deve ser extraída. Quem se importa com câimbras, convulsões, depressão e afins quando se pode encher o bolso ao fim do mês? Quanto vale um amor se este não for provedor?


Kafka trouxe à tona uma dor invisível. O desprezo pelo o que deveria ser o fundamental. Expôs o atentado à memória, às boas lembranças, à consideração e à gratidão. Destrinchou o podre da sociedade divisora de funções, que estão acima de qualquer valor humano. A virtude torna-se um lixo altamente dispensável e perigoso para a manutenção da ordem. A submissão é ensinada desde o berço e a morte é inevitável. (Só não pretenda morrer sem ser trabalhando para seu superior).


E, se dentro de cada um de nós, um imenso besouro estivesse a surgir? O besouro que nos impede de colocar dinheiro dentro de casa. O besouro da fraqueza, da indisposição, da doença, da dor, da velhice? Devemos então descartar uns aos outros por momentânea debilitação? Devemos rasgar nossas almas e pisoteá-las tais como na carcaça de um besouro? Ou devemos trancar nossas dores em um quarto escuro até que morram e nunca mais voltem a nos perturbar? Devemos nos policiar e impedir o sentir?


É muito sensível que um escritor tenha a capacidade de entregar em palavras subjetivas a denúncia da dor vivida por uma sociedade alienada em suas catequizações forçadas. Uma ficção mais realista que uma fotografia. Uma metáfora única, sincera, inquestionável.