E não obstante a continuidade dos fatos cotidianos e frenéticos, tenho de levar comigo uma mente insana, inquieta e veloz. Entre questionamentos e suposições minhas linhas de pensamento são delineadas. Nem de maneira constante, nem tão esporádico ao ponto de me fazer esquecer seu último ataque de fúria. Tudo não faz sentido algum, quando as perspectivas são alteradas e englobadas dentro de contextos diversos a aleatórios. Tento várias ferramentas de entendimento e quanto mais detalhadas, percebo o quão inútil a compreensão se torna perante o irredutível mistério que nos cerca. Se hei de achar respostas, talvez seja em um tempo distante, quanto houver a possibilidade de alcançar um novo patamar de evolução... Se bem que não sei ao certo se essa distinção é verídica ou foi mais uma ilusão semeada em minha mente quando eu era frágil o bastante para acreditar nos mais ridículos fatos...
Não quero julgar e nem precipitar conclusões... Se bem que esta última acredito ser impossível. O simples reconhecimento da ignorância declarada já é uma conclusão bem densa e audaciosa. Não quero desafiar os clérigos respeitados ou mesmo afrontar por rebeldia as tiazinhas devotas. Não quero compartilhar idéias de ateus, tão arrogantes ao ponto de afirmarem a inexistência de qualquer forma. Por que tem de haver uma verdade única? Por que apenas uma resposta, assim como formas de rituais? Não me atrevo a citar exemplos, porém não quero escolher entre diferentes vertentes e absorve-las definitivamente. Quero retirar o essencial de tudo aquilo que pra mim é coerente e construir alguma linha de pensamento organizado ou mesmo compartilhar o que me faz sentir mais próxima da verdade. Se bem que esta também é subjetiva. Todos os pontos convertem para o mesmo resultado: o limbo. Onde ninguém sabe, ninguém vê, ninguém pressupõe ou aceita. Um mundo oculto, ou inexistente. Um esfera inacessível e procurada incessantemente até o momento da morte. Essa tendência de ter domínio daquilo que espera é frequente desde o início dos tempos. As mais diversas histórias foram contadas, religiões criadas, doutrinas estabelecidas... E aqui estou eu. Perante um mundo completamente louco, movimentado, de contrastes e projeções. Não sei se minha forma de visualização coincide com todos ao meu redor. Não sei se o toque é real. Não sei entender o que ocorre nos meus sonhos. Carrego comigo um presente: A capacidade de desenvolver um pensamento que não está atrelado a um instinto animal. E é com ele que percebo a minha existência e a questiono. O que está do outro lado? E o lado, faz sentido, é real? Não quero me iludir a seguir algo apenas para confortar a minha inquietude. Não quero me apoiar sob paradigmas ultrapassados. Não quero desperdiçar minha razão livre. Não quero mergulhar em uma visão quadrática, restrita e comum. Por mais que o fim se aproxime, e eu nada tenha descobrido, o mistério é sempre melhor que a acomodação. Se busco pelo caminho mais difícil? Pode ser... Mas se a cada dia eu puder me surpreender, então tudo valerá a pena. Não posso ver, mas posso sentir energias diferentes, posso enxergar mais em um olhar materno... E posso garantir que o amor que vibra dentro de mim não tem lógica, não tem religião... O cheiro da chuva, as lembranças arquivadas pela mente... Pequenos sinais que fogem do cotidiano metódico e tedioso.
Não quero determinar, afirmar, explicar, ou provar. Porque nem eu, e nem nenhum ser humano pode, de fato, realizar qualquer uma dessas ações. Quero seguir uma trilha, consciente de sua magnitude e mistério... Consciente de seu absoluto sigilo... E nunca perder a minha capacidade de observar, sentir e questionar.
"Nós enxergamos tudo num espelho, obscuramente. Às vezes conseguimos espiar através do espelho e ter uma visão de como são as coisas do outro lado. Se conseguíssemos polir mais esse espelho, veríamos muito mais coisas. Porém não enxergaríamos mais a nós mesmos" (Jostein Gaarder)